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A Busca da Segurança Total – O Princípio, Meio e o Fim da Administração Humanista

17 junho 2011

A Busca da Segurança Total – O Princípio, Meio e o Fim da Administração Humanista


E a matéria sobre SEGURANÇA NO TRABALHO não é ministrada nos cursos de formação de engenheiros, nem de administradores e nem de tecnólogos … Como então ajudaríamos a REDUZIR os acidentes de trabalho no Brasil?
 
Trabalhei numa das mais perigosas atividades para profissionais, uma Usina Siderúrgica Integrada, durante quase 22 anos. Acumulei cerca de 48.000 horas de engenharia aplicada. Lá perdemos vários amigos e conhecidos em acidentes de trabalho – cerca de 10 mortes em média ao ano – com circunstâncias inacreditáveis. Para uns vi os “destroços”, para outros não tive coragem …

 
Percebi que apesar da empresa ter CIPA, utilizar as normas reguladoras PCMSO – Controle Médico e Saúde Ocupacional, PPRA – Prevenção de Riscos Ambientais, ter engenheiros e técnicos em segurança no trabalho … Os acidentes aconteciam.

 
Então fui estudar as causas e conseqüências dos acidentes e terminei propondo a formulação de um Sistema da Segurança Total, o qual não chegou a vingar.

Havia mais créditos para a organização oficial da segurança industrial, já que estava regulado por normas brasileiras … Mas, os acidentes continuaram, mesmo aos esforços do Departamento de Segurança do Trabalho em reduzí-los. 

 
E houve boicote, uma vez que o Sistema de Segurança Total criava nos trabalhadores a possibilidade de realizar suas tarefas com o AUTOSENSO DE SEGURANÇA RACIOCINADA, como o próprio crente preparado para interpretar a Bíblia. E isto iria tirar poder do sistema de segurança TUTELADA.

 
E a matéria sobre SEGURANÇA NO TRABALHO não é ministrada nos cursos de formação de engenheiros, nem de administradores e nem de tecnólogos … Como então ajudaríamos a REDUZIR os acidentes de trabalho no Brasil?

 
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Era um período conturbado na região do vale industrial. Intensos movimentos de trabalhadores sacudiam o sossego aparente das ruas, reivindicando melhores condições de trabalho. A qualidade de vida deixava muito a desejar. Havia sofrimento físico e moral.
 

O Complexo Siderúrgico local tinha um grande volume de insatisfações canalizado contra a administração. As reclamações trabalhistas minavam a resistência econômica do complexo, cujos resultados incentivavam um número maior de ressarcimentos por perdas e danos e outros títulos legais.
 

Famílias de trabalhadores lutavam nos tribunais requerendo indenizações vultosas para invalidez ou óbito de seus parentes acarretados por acidente de trabalho e outros desajustes.
 

Todo esse clima preocupava o pessoal da administração, que estava prestes a assumir a direção do Complexo Siderúrgico. Um caldeirão de lamúrias e dor.
 

Um prodigioso administrador conhecia bem os fundamentos da tecnologia que iria gerenciar. O grupo acionário majoritário selecionou seu currículo, tal o profundo conhecimento que revelava sobre competência social e sobre a dignidade humana.
 

Sua experiência geral mostrava domínio em Administração da Qualidade e suas disciplinas correlatas, o que seria suficiente como um empreendedor modernizado, que tomaria por base a aplicação prática da Teoria de MASLOW, sobre o crescimento do ser humano, o desenvolvimento de seu potencial e criatividade.
 

A Região estava com alto índice de pobreza e com muitas deficiências estruturais na educação, na conservação urbana, na assistência hospitalar, na segurança pública, no saneamento e outras situações precárias ligadas à atividade sociopolítica.
 

Numa manhã de sábado, às vésperas da posse, houve uma reunião, para uma última conversa de acerto sobre o plano de ação que seria utilizado para iniciar um esquema visando garantir a sobrevivência do complexo.
 
Sentados à mesa do café os novos administradores estavam silenciosos e fitavam o nascer do sol ao fundo à varanda. Leram as páginas do resumido relatório fornecido pelo atual Conselho Administrativo do Complexo Siderúrgico.
 

Após breve reflexão começaram a debater os itens mais críticos demonstrados. Concluíram que deveriam iniciar resolvendo o problema de segurança e de relacionamento humano. Muitos conflitos estavam associados a esses temas.
 

Em parte tinham razão. Mas, outros problemas pareciam ser emergenciais. Não deveriam adotar programas temporários. Teriam que ter algo que passasse a representar o objetivo real das pessoas no dia a dia de trabalho. 

Algo que fizesse convergir todos os esforços numa luta comum pela sobrevivência.

 

A questão da luta dos sindicatos locais preocupava. Eles estavam em busca de um direito humano que seria a construção do homem plenamente realizado. Os Administradores teriam que usar as habilidades de especialistas no campo de segurança no trabalho e de Recursos Humanos.
 

Os Direitos Humanos precisavam ser assumidos para concretizar uma sociedade saudável, e se não conseguissem transmitir esses efeitos por todo o país pelo menos na comunidade local deveriam fazer acontecer. As reivindicações sindicais, em totalidade, esbarram nesses direitos não cumpridos pelas empresas e pelo governo. Eliminando as aberrações reivindicativas os empregados ficam bastante felizes com tal atenção da empresa.
 

Direitos Humanos cumpridos no trabalho são pontos fundamentais da questão de sobrevivência que favorecem o lado financeiro de qualquer empreendimento.
 

Uma coisa ficou clara. O requisito essencial que seria convertido para a prática administrativa, era a de considerar o HOMEM EM PRIMEIRO LUGAR, O LUCRO UMA CONSEQUÊNCIA DISSO.
 

O dia estava firme e luminoso, pouco quente e bem agradável. O novo administrador levantou para observar o amanhecer que se completava enquanto fazia sua meditação diária, desenvolvendo sua capacidade pensante e de fazer acontecerem às boas coisas. Ele sempre se empenhou em tornar a Terra um lugar feliz para os homens. Sua responsabilidade era grande, pois volta e meia estava colocado na direção de grandes corporações. Por onde passou deixou fervorosos amigos e seguidores e quando podia visitava-os, mantendo os elos de amizade e carinho. Seu senso de justiça, algo salomônico, com imenso conteúdo de sabedoria possibilitou a convivência pacífica entre escolas de comportamento e pensamento diferentes.
 

A posse foi cansativa, mas a esperança de um bom trabalho e razoável receptividade dos empregados, do Complexo Siderúrgico, mostravam-lhe um futuro possivelmente promissor.
 

Antes do início do expediente ele iria ter uma conversa preliminar sobre as condições lastimáveis de segurança do trabalho no complexo com o consultor contratado.
 

Depois de demorada conversação de encontro e um pequeno cerimonial de café o novo administrador entendeu, com a leitura do relatório mencionado, que parecia haver um exterminismo consentido, inadvertido e não erradicado no trabalho de muitas empresas no país. O trabalho carrega consigo preocupações humanitárias, com relação à preservação da integridade física e mental dos empregados.
 

Trabalho sem acidentes é um “Direito Humano.”
 

Atualmente no país haviam movimentos relacionados à redução de custos, defeito zero, qualidade total, muitas ações relacionadas a poderosos slogans, mas não se via, nem tão pouco se lia algo relacionado à SEGURANÇA TOTAL. Pode ser utópico, mas é viável formular um sistema que coloque o índice de acidente em nível de parte por milhão (PPM). A segurança absoluta é atingida quando os fatores concorrentes das atividades tiverem seus limites de falibilidade conhecidos. A confiabilidade nas tarefas, operações, rotinas e serviços representam à verdadeira garantia na ausência de acidentes…
 

Um sistema de trabalho pode ser concebido para chegar à segurança absoluta. É preciso que as falhas da administração sejam eliminadas para atuar na prevenção e no diagnóstico dos casos de acidente com “mãos limpas”. Todo administrador deve demonstrar a importância do Homem na organização e na sua função, no setor, para criar o instinto de prevenção raciocinada, instruindo o empregado quanto a cenografia do seu local de trabalho, os instrumentos, máquinas e equipamentos dispostos, para identificação dos meios adequados de prevenção e proteção, além de detalhar como que os equipamentos de proteção individuais são utilizados e para quê.
 

Fizemos essa abertura para dizer que os administradores são os responsáveis por tudo que dirigem, até pelo que os seus prepostos decidem! Quem lembra de ter lido a notícia sobre o pedido de demissão do Presidente de uma Companhia Aérea Japonesa (no início dos anos 1990), devido a um desastre aéreo de grandes proporções, envolvendo um avião seu? Será que todo administrador tem que chegar a esse ponto?
 

No enfoque dessa questão os administradores deveriam determinar as diretrizes de trabalho para atingir as metas operacionais, de rotina e aquelas estratégicas, ligadas à sobrevivência, tudo que decorresse em termos de acidentes, para tais metas, seria um ponto negativo, para eles. É importante criar comitês setoriais de segurança, para estabelecer a co-responsabilidade, cujas ações seriam conduzidas por empregados e supervisores locais.
 

O Controle da Qualidade Total promove o Defeito por Milhão (DPM). Mas, segurança total não admite DPM, pois decorrer daí a admissão do exterminismo ou da invalidez e o corpo humano é uma expressão da matéria de elevada significação divina.
 

A infinidade de fatores que se interagem para que uma atividade seja realizada coloca o sistema de segurança total (ou absoluta) na esfera da onisciência e onipresença, que são propriedades de Deus Todo-Poderoso.
 

A força e o esforço do Homem, sua inteligência, sua habilidade e perícia, sua intuição e inspiração são os recursos que a humanidade recebe como graça dos céus, para estabelecer o seu progresso material e espiritual, então o dever do Homem é progredir com os direitos que lhe garantam esse progresso.
 

Uma empresa deve zelar pela melhoria da escolaridade do seu pessoal, ou por educação e treinamento na função, com alto índice de capacitação tecnológica, ou por cursos de aculturação sobre disciplinas humanas ou por aqueles que permitam seu autoconhecimento, para atitudes e comportamentos mais nobres e de alto valor. Apenas isso já faz cair o índice de acidente.
 

O Homem precisa sentir-se útil no servir a empresa, através do seu crescimento favorecido pelo amadurecimento psicossocial que o coloca em nível de trabalhos férteis e de grande envergadura. Sua significação na família e na sociedade é tão importante que muitos dependem emocionalmente dele, antes de depender de outras formas de suprimentos que pode oferecer.
 

O Homem é uma porção do todo e que dele consta e que dele depende e ele influencia, assistido pela inteligência superior. O processo histórico da evolução do homem, do Gênese à condução do seu próprio destino na Terra, submetida às leis físicas e químicas, tempo e temperatura, local e cultura, religião, filosofia e ciência demonstra uma caminhada inigualável em que cada criança que nasce – Homem de amanhã – é única e irreproduzível por genitores únicos e irreproduzíveis. Esse é o grande gigantismo da representação divina do homem, imagem e semelhança de Deus.
 

Perder uma unha ou um dedo é uma grande perda. Perder uma vida é uma grande perda para o Todo, na visão Holística. Tudo depende de tudo. O Homem só deveria morrer quando se encerrasse o ciclo biológico natural da sua vida, dentro da expectativa média local até mesmo acarretado por falhas congênitas, características hereditárias e problemas adquiridos.
 

Um acidente de trabalho, se tomado como ocorrência casual ou do acaso, ele aborta a vida ou invalida a mesma, fora do seu ciclo natural.
 

A maior incidência de acidentes é em serviços ou operações de alta periculosidade, combinada com pessoas de baixa escolaridade ou qualificação, e mesmo assim os grandes responsáveis são os que dirigem os trabalhos e presidem seus resultados.
 

A maioria dos resultados analíticos de um acidente tem dado a impressão de que a probabilidade do acidente esteve relacionada apenas com o homem (falha Humana), mas a ciência de análise e a imparcialidade dos analistas, sem pressão psicológica das empresas, já consegue mostrar que a redução da taxa de acidente depende de diversas variáveis ou fatores que em sua maior parcela, e em peso, dependem de uma boa organização da empresa.
 
A administração da empresa deve demonstrar interesse em prover recursos necessários para se conduzir os estudos relacionados à análise dos acidentes ocorridos e que muitas vezes podem ficar não totalmente esclarecidos. Quando uma série de acontecimentos difíceis de explicar, a priori, levam a algo construtivo podemos dizer que chegamos uma coincidência. Mas, quando eles levam a resultados destrutivos chamamos de catástrofe ou acidente. As falhas podem ter causas fundamentais descobertas a posteriori, porém o resultado catastrófico já é um fato consumado, com conseqüências complexas.
 
A concepção de um sistema de segurança total implica numa revisão aprofundada de toda a organização.
 

Todo trabalhador deve ter motivação para prevenção de acidentes. Tanto se previne, mas ainda ocorrem acidentes. 

Por isso, tal sistema de segurança total deveria atuar nas causas potenciais externas e nas componentes internas, essas últimas restritas ao limite psicofísico do homem.

 

No período anterior à Qualidade Total (QT) apenas engenheiros e técnicos especialistas em Qualidade efetuavam o Controle da Qualidade, centralizado, nas empresas. Durante o advento da QT todas as pessoas têm responsabilidade pela Qualidade. O senso de preservação da integridade individual deve ser algo raciocinado, portanto cada pessoa tem que assimilar os fundamentos da preservação individual, para que atue em suas tarefas com a percepção e a habilidade em identificar uma atividade de perigo potencial por meio de evidências objetivas. 

Ensiná-la a prever o meio de prevenção, proteção e advertência.

 

Em verdade o que se pode inferir é que todo administrador deve refinar o processo seletivo das pessoas, de educação e treinamento e desempenho no trabalho. Seria dirigir um método seletivo de aptidão intelectual, em função da área de trabalho e seus riscos inerentes. É óbvio que aptidão e treinamento são condições para melhor nível de sobrevivência. No meio-máquina, por exemplo, sobreviverá, isto é, implementará maior desempenho com segurança aquele que se classifica nos critérios do processo de seleção e de qualificação para certo posto de trabalho. Um poderoso esquema de recursos humanos sempre deve ser considerado para tal.
 

Pode-se instituir um SISTEMA DE SEGURANÇA TOTAL com processo de comunicação simplificado, de modo a alcançar o entendimento mais simples do pessoal com menor grau de instrução e escolaridade. Muito embora constem das fichas de descrições ocupacionais dos empregados, uma atribuição referente a obrigação de se inteirar sobre normas de segurança, aplicáveis em seu setor de trabalho, os fundamentos do sistema de segurança total deveriam ser expandidos para todas as pessoas. Assim estariam habilitadas a identificar as evidências objetivas que denunciassem os perigos potenciais.
 

Certamente, a proposta do sistema de segurança total seria o esboço de um grande esforço para reduzir ou erradicar o acidente de trabalho em qualquer Complexo Industrial ou de Serviços. Só o tempo oferece, com o aprimoramento do modelo adotado, um sistema que leve à segurança absoluta (acidente por milhão ou por bilhão).
 

Engº Lewton Burity Verri
CREA 74-1-01852-8 UFF – RJ
Ex-engenheiro senior da CSN – Volta Redonda – RJ
Copyright © 1994 – Engº Lewton Burity Verri

Fonte: Administradores

Fonte: A Busca da Segurança Total – O Princípio, Meio e o Fim da Administração Humanista