Blog

SST – Acidentes de Trabalho e suas repercussões na saúde mental

13 junho 2011

SST – Acidentes de Trabalho e suas repercussões na saúde mental

Artigo de Revisão Bibliográfica sobre Acidentes de Trabalho e suas repercussões importantes na saúde mental do trabalhador. Relata o sofrimento psíquico do prestador de serviço, em decorrência dos acidentes de trabalho.

Os “acidentes de Trabalho têm um significativo impacto sobre a Saúde Mental dos trabalhadores. Talvez, pela não obviedade de uma doença física em suas concretas evidências, esta relação tende a ser menos valorizada e estudada, comparando-se ao número de estudos que contemplam os aspectos ambientais e físicos ligados ao processo do acidente de trabalho. Os acidentes de trabalho não só comprometem a integridade física,mas podem também resultar em alterações psiquiátrico-psicológicas que repercutem no relacionamento intrapessoal, familiar; social e laboral do indivíduo, comprometendo também sonhos e projetos de vida, de realização pessoal. As estatísticas não permitem que se ignore esta realidade. Segundo a Organização Internacional do Trabalho acada ano, em nível mundial, ocorrem cerca de 120 milhões de acidentes, sendo que destes por volta de 210.000 resultam em falecimentos. É um número alarmante se levado em conta que esses dados não incluem os casos subnotificados. E, mais ainda, se for considerado que a maioria dos acidentes de trabalho resulta em lesões corporais, que muitas vezes têm como consequencia deficiências físicas que podem ter caráter permanente e incapacitante para a vida laboral, para muitas atividades sociais e para a vida, de maneira geral. Existe uma tendência em associar os acidentes de trabalho como uma possibilidade á qual estão expostos somente o trabalhador da indústria e o ambiente industrial. De fato, este é um tipo de ambiente onde os riscos são mais evidentes e os acidentes têm maior visibilidade,até pelo alto grau de periculosidade e insalubridade de alguns setores. Cabe ressaltar que os acidentes de trabalho acontecem em todas as categorias e ambientes ocupacionais. Os riscos poderão até mesmo ser menos aparentes e as lesões de menor porte, em alguns setores, mas nem por isso trarão menos prejuízos a vida do trabalhador. As repercussões do acidente de trabalho sobre o corpo encobrem as intercorrências emocionais decorrentes do mesmo, para os próprios empregados, bem como colegas de trabalho e familiares.

TEORIAS SOBRE ACIDENTES DE TRABALHO

Teoria do Dominó: Considera o acidente de trabalho como último evento de uma sequencia linear constituíndo uma tentativa de sistematização que se contrapunha á noção de fatalidade.aqueda de um,desencadeia a queda dos subseqüentes, assim as ações do trabalhador ou de seus colegas exercem um papel de destaque e devem ser contempladas na prevenção.

Teoria da causalidade múltipla e da concepção multicausal: Considera que os acidentes quase nunca têm como causa apenas a ação do trabalhador, mas sim são ocasionados pela combinação de vários fatores comportamentais(relativo a atitudes, conhecimentos, condições física e mental) e ambientais(equipamentos, medidas de proteção).

Teoria de Sistemas:Considera que as empresas constituem sistemas sociostécnicos abertos, que se constituem de dois subsistemas: o ténico(abarca ambiente, máquinas, tecnologias, produtos etc.) e o social(trabalhadores com diferentes qualificações que estabelecem entre si relações pessoais e hierárquicas). Segundo BINDER e ALMEIDA(2003). “esses dois subsistemas interagem entre si, resultando em interações positivas(que contribuem para a maximização da produção com qualidade) e interações negativas(cujos resultados não planejados, podem perturbar a produção, interferir na qualidade e desencadear acidentes de trabalho)”. Na Escola Comportamentalista os acidentes de trabalho têm a sua abordagem nas ações humanas,analisando os comportamentos sobre a ótica dos erros humanos, centrando a prevenção na supressão dos mesmos. Segundo a teoria as ações humanas podem ser divididas em três tipos:

Habilidades: onde se usa a memória não consciente e não a condição de raciocínio;

Cumprimento de Regras: o trabalhador recorre ás regras para definir uma ação;

Conhecimentos: o trabalhador necessita raciocinar e interagir com os conhecimentos, nas ações a serem realizadas.

A abordagem da Psicodinâmica do Trabalho descreve que o fator humano no acidente de trabalho possui duas vertentes:

Falha Humana: falhas de desrespeito ás regras, aos regulamentos, á disciplina, á vigilância e ás instruções direcionadas para o controle dessas ações;

Gestão de Recursos Humanos: sinaliza a importância dos aspectos como a motivação do indivíduo e a cultura da empresa.

Na realidade do trabalhador brasileiro, arriscar-se pela competição é parte das tarefas habituais. Não é fruto baseado na livre escolha do trabalhador, mas uma imposição por obediência ou pelo grande medo de perder o emprego.

Hoje já podemos analisar os acidentes de trabalho utilizando a expressão “Fator de Acidente” em vez de “Causa”. Assim, causa é o resultado da combinação de fatores suficientes para explicar a origem do acidente.Conhecer estes fatores é importante, pois mostram que com o passar dos anos está se superando a visão simplista que divide as ações em seguras e inseguras, ampliando-se o foco de análise. O indivíduo deixa de ser visto de forma isolada, como o único responsável pelo acidente. Para a devida análise dos acidentes de trabalho é levado em conta um conjunto de fatores que está á sua volta, considerando o ambiente, a natureza das tarefas realizadas, as formas de gerenciamento e as relações sociais que se estabelecem entre os trabalhadores, e entre a empresa, trabalhadores e comunidade em que ambos estão inseridos. Uma análise mais ampla, que considere a complexidade destas interações permite não só uma melhor compreensão do fenômeno, mas também traçar caminhos mais eficazes para a prevenção. Uma abordagem que responsabiliza apenas as ações individuais, não só não resolve o problema como é um fator a mais de tensão e sobrecarga mental para o indivíduo. Por fim, não se pode esquecer que os acidentes ocorrem devido a diversos fatores que influenciam no trabalhar. As más condições do ambiente, dos materiais e equipamentos, a ausência de umaproteção adequada, a falta de treinamentos específicos e de investimentos para a saúde do trabalhador, são pontos fundamentais para iniciar-se uma discussão.

TIPOS DE ACIDENTES DE TRABALHO

Acidentes Tipo 1: Uma sequencia linear de eventos a partir de mudanças ou variações nas situações de trabalho. Ocorrem em empresas com baixa corporação tecnológica e com carência de elementos de engenharia e segurança.

Acidentes Tipo 2: Participação de um conjunto de variações que isoladamente seriam incapazes de desencadear acidentes de trabalho, mas que combinados entre si são suficientes para fazê-lo. Ocorrem em empresas com maior grau de incorporação tecnológica e que apresentam baixas taxas de acidentes.

Acidentes Tipo 3: Sua origem exige a presença de conjunções de numerosas mudanças ou variações independentes entre si. Ocorrem em empresas com grande incorporação tecnológica onde o acidente de trabalho é um evento excepcional.

O QUE É ACIDENTE DE TRABALHO?

A Organização Internacional do Trabalho define acidente de trabalho “como o resultado da interação entre o trabalhador e os objetos(ambiente e outros indivíduos), que culmina em evento repentino e não desejado, que produzem lesões, mortes e perdas”

Para alguns autores, acidente de trabalho também pode ser definido como ” fenômenos previsíveis embora não seja possível prever exatamente quando ocorrerão e qual ou quais trabalhadores serão atingidos. E , sobretudo, podem ser prevenidos por meio de neutralização ou de eliminação dos fatores capazes de desencadeá-los”.

TIPOS DE ACIDENTES DE TRABALHO SEGUNDO A LEGISLAÇÃO BRASILEIRA

Segundo as diretrizes da Constituição Federal de 1988, que define acidente de trabalho “como aqueles que ocorrem no exercício do trabalho, a serviço da empresa, provocando lesão corporal ou imcapacidade funcional, causando a morte ou a perda ou a redução, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho”.

De acordo com a lei acidentária, são considerados acidentes de trabalho eventos danosos que ocorrem:

a) No local e horário de trabalho em decorrência de: Agressão,sabotagem ou terrorismo, ofensa física e intencional, imprudência, imperícia ou negligência de terceiros ou de colegas de trabalho, ato de pessoa privada de razão, desabamento, inundação, incêndio ou outras causas de força maior e acidente que ocorrer no horário das refeições, bem como durante satisfação de necessidades fisiológicas.

b) Fora do local de trabalho: Executando ordens ou prestando serviço á empresa, prestando espontaneamente serviço á empresa que possa proporcionar ganho ou evitar prejuízo, viajando a serviço da empresa, mesmo por motivo de estudos e no percurso de casa para o trabalho ou vice-versa.

FATORES NOCIVOS QUE FAVORECEM A OCORRÊNCIA DE ACIDENTES DE TRABALHO

Essencialmente os fatores nocivos se relacionam com diversas fontes, tipo de energia e atividades, englobando: operações com objetos cortantes; operações com máquinas de prensar, compressão e ferramentas de fixação; conversão de energia cinética em energia potencial, como, por exemplo, quando algo golpeia ou cai sobre um trabalhador; conversão de energia potencial de um indivíduo em energia cinética, como quando um trabalhador cai de um local elevado em direção a outro local mais baixo;exposição ao calor e frio, eletricidade, som, luz, radiação e vibrações, exposição a substâncias tóxicas e corrosivas, fatores de estresse mental e psicológico, como ameaça de violência.

REALIDADE BRASILEIRA E REALIDADE MUNDIAL

Obeservando um número crescente de acidentes no trabalho no Brasil, e suas consequencias, não só a qualidade de vida dos trabalhadores brasileiros, como os prejuízos econômicos, o Ministério da Previdência e Assistência Social/MPAS, vem priorizando,junto ao Ministério do Trabalho e Emprego/TEM, políticas que permitam avaliar e controlar a atual situação, identificando os setores que receberão maior atenção do governo para fins de prevenção e fiscalização(SINDICATO DOS METALÚRGICOS DE OSASCO, 2001).

A Comunicação de Acidentes de Trabalho(CAT) é a fonte de dados utilizada para a elaboração das estatísticas oficiais brasileiras de acidentes de trabalho e foi criada pela Previdencia Social. Este documento fornece informações referentes á identificação do acidente, sua ocupação, a empresa, o tipo de atividade econômica, o horário da ocorrência, o agente causador e a descrição sumária da situação geradora do acidente. A emissão do CAT é obrigatória apenas para os trabalhadores regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho e Segurados Especiais. Dentro deste campo, milhares de acidentes permanecem invisíveis para as estatísticas oficiais brasileiras.

ACIDENTES DE TRABALHO E SAÚDE MENTAL

O acidente de trabalho não é um fato isolado no cotidiano do trabalhador. Podemos considerá-lo como um processo que se inicia muito antes do evento que acarreta a lesão e tem sua continuidade algum tempo depois do ocorrido, no que tange ás providências a serem tomadas posteriormente (acionamento dos orgãos competentes, reabilitação, reinserção profissional, processo de aposentadoria, entre outros). Sendo assim, quando se pensa em Saúde Mental e acidente de trabalho, esta relação tem que ser considerada em todas as etapas do processo, mesmo quando se pretende aprofundar os estudos em um único aspecto. Pode-se identificar três pontos de vista para se discutir a relação entre Saúde Mental e Trabalho:

1- O impacto dos riscos eminentes de acidentes de trabalho sobre a saúde mental: Nesta etapa o acidente ainda não ocorreu, sendo assim é verificado como os trabalhadores reagem psicologicamente frente aos riscos á integridade física.

2- Estresse e desgaste favorecendo a ocorrência do acidente: Este é um tópico pouco explorado, mas pesquisas afirmam que trabalhadores que sofrem algum impacto emocional e aqueles que possuem menor satisfação no trabalho tendem a obter maiores riscos de sofrer acidentes.

3- O impacto do acidente de trabalho(propriamente dito) na Saúde Mental: No Brasil, as pesquisas se concentram mais nos aspectos físicos do acidente de trabalho, principalmente no que tange a lesão e/ou mutilação, onde se faz importante considerar dois pontos: a percepção do evento em si e as consequencias na saúde mental das lesões e sequelas físicas que eventualmente venham a ocorrer. Este momento pós-acidente é muito importante de ser aprofundado, pois abarca não apenas o componente subjetivo, experienciado individualmente,mas também tem seu reflexo em nível das relações afetivas e sociais do trabalhador. É um acontecimento que demanda suporte e apoio também das estruturas públicas de saúde, da comunidade, do empregador, exige reorganização da vida familiar, que nem sempre estão acessíveis ou preparados para as novas necessidades do trabalhador acidentado.

A VIDA APÓS O ACIDENTE DE TRABALHO

O trabalhador é o mediador da integração social, seja pela sua subsistência ou pelo seu aspecto cultural, trazendo uma importância na constituição da vida da pessoa, nos aspectos físicos, sociais e mentais.

A maior incidência de acidentes no trabalho ocorre na faixa etária mais produtiva(31 a 36 anos). Sabe-se que na fase adulta são afetadas as relações profissionais, sendo que muitas vezes com a interrupção de uma carreira em ascensão ou perturbações na vida profissional do trabalhador. Em pleno vigor físico e mental, as interrupções de vida definidas pelo acidente de trabalho trazem a perda ou a deteriorização de uma parte do organismo, acarretando mudanças corporais, desfiguramentos, alterações de potencialidade da realização do sujeito na vida pessoal ou profissional.

KUBLER-ROSS (1969), afirma que podem ser percebidas fases ligadas ao choque-reação de entorpecimento diante de uma situação extremamente estressante;

A negação: Fase em que a pessoa age como se o problema não fosse com ela, e que nada de grave tivese ocorrido.

A raiva: Fase em que o sujeito percebe a dimensão da perda e suas manifestações são de raiva onde se imputa a culpa sobre si mesmo.

A deficiência ou a doença instalada não tem caráter individual, mas sócio-familiar, com repercussões financeiras e emocionais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Vivenciar a realização de perda onde há percepção de que a situação é real, sem retorno, e que a deficiência está instalada e é definitiva, faz com que o trabalhador acidentado confronte-se com sentimentos contraditórios de raiva, tristeza, medo, culpa, depressão e dor que se mesclam no reorganizar da vida.

Poucos estudos tem avaliado a Saúde Mental das vítimas de acidente de trabalho que retornam a qualquer outro tipo de atividade, mesmo aqueles que tiveram lesão irreversível.

O retorno ao trabalho dos acidentados é percebido como elemento incapacitante para a execução de outras tarefas diferentes das realizadas anteriormente ao acidente. Em algumas situações, o próprio processo implícito de exclusão faz com que o acidentado intensifique as posturas de inabilidade bem como a sedimentação de trastornos emocionais.

É fundamental o encorajamento partilhado de ações para que o impacto da doença física não torne o indivíduo incapacitado e moralmente impedido.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BINDER, M.C. e ALMEIDA, I.M., Acidentes do Trabalho: Acaso ou Descaso? In; MENDES,

Fonte: Administradores

Fonte: SST – Acidentes de Trabalho e suas repercussões na saúde mental