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Saúde e produtividade

22 março 2011

Saúde e produtividade

O termo “produtividade” tem uma variedade de conotações e definições no mundo corporativo. Cada uma delas apresenta diferentes perspectivas que não eliminam a relevância da saúde corporativa.
Existe uma conexão lógica entre saúde e desempenho profissional. Qualquer pessoa que tenha tentado se concentrar no trabalho com uma forte dor de cabeça, ou dores costais, ou que tenha coordenado uma reunião com problemas emocionais, sabe que a performance é prejudicada.
Uma cirurgia pode nos deixar incapazes de levantar da cama ou pensar claramente por dias ou semanas. Mesmo questões menores como alergias ou indisposições gastrointestinais interferem com nossa habilidade de trabalhar com eficiência.
Fica claro que além de custos diretos, existem substanciais custos indiretos devido à má saúde do empregado. Estudos da HERO (Health Enhancement Research Organization) apontam que esses custos ficam acima de 50% do custos totais da saúde, sendo que o estilo de vida não saudável contribui para custos mais altos de assistência medica.
Empregados com alto risco para fatores como depressão (70%), stress (46%), hiperglicemia (35%), sobrepeso (21%), fumo (20%), hipertensão arterial (12%) e vida sedentária (10%) geram custos médicos maiores quando comparados a indivíduos de baixo risco para esses mesmo fatores. Por outro lado, os custos indiretos do absenteísmo, presenteísmo, queda da produtividade, aumento da rotatividade, desmotivação, não são tão percebidos na hora de pagar a conta da saúde.
O custo da assistência médica tem crescido constantemente e ainda que esse crescimento tenha se abrandado nos últimos anos é visto pelas corporações como insustentável nos próximos anos. Se a tendência de alta continuar, algumas delas estarão pagando mais em saúde que em salários antes do final dessa década. O próprio trabalhador perde com isso pois seu salário desacelera. O futuro do sistema tem um alto risco e provavelmente não sobreviverá.
Até agora, a principal estratégia da maioria das empresas (e sem sucesso) para reduzir a taxa de crescimento dos custos de assistência médica tem sido a transferência de parte dessa responsabilidade para o empregado. Isto pode manter o fluxo de caixa ainda por um tempo, mas é pouco para aliviar a pressão que impulsiona as despesas para patamares cada vez mais altos levando no final a um custo insustentável. Na realidade as medidas paliativas deixam de enfrentar a necessária renovação da saúde.
O investimento nessa área deve ser direcionado com mais efetividade. Uma atenção para a causa do problema, procurando evitar custos ao invés de se esforçar para controlá-los, é a “Gestão Integral de Saúde da População” que permite às empresas uma abordagem de melhoria na saúde de seus empregados como sistematicamente fazem em outras questões do negócio – com estratégia clara e plano tático coerente para conseguir bom resultado.
Empresas diferenciadas e de sucesso têm em sua lista de prioridades o conceito “saúde do empregado é valor para os resultados”. Outras continuam a vê-lo como custo administrativo, e se esforçam para diminuir os gastos, não percebendo as consequências negativas no bem estar do empregado e consequentemente em seu desempenho no trabalho.
Programas de promoção de saúde, avaliações preventivas, gestão de casos de alto custo, gestão da doença – são importantes peças desse modelo. O primeiro elo da corrente é o desenho do beneficio baseado em “valor” e não em “custos”. Promover comportamentos saudáveis como nutrição adequada, atividade física regular, e evitar maus hábitos como tabagismo – a fim de reduzir os riscos de saúde, são fatores cruciais para o sucesso de um programa de gestão de saúde.
No campo da saúde dos empregados, os decisores dentro das corporações continuam a ver e a pensar taticamente – o que os faz olhar para outras direções, não enxergando as coisas importantes que não podem calcular. É por isso que o adágio “um grama de prevenção vale mais que um quilo de cura” foi largamente desconsiderado pelas instituições nas últimas décadas.
Muitas companhias cuidam mais de suas máquinas que de seus empregados – realizando manutenções preventivas regularmente em seus ativos metálicos para evitar que quebrem e gerem custos com manutenção enquanto estiverem parados. Mas quando o foco for sobre os ativos humanos – os quais dirigem as máquinas e também avaliam o que está sendo produzido ou distribuído – as empresas retornam à mentalidade da “gestão de custos administrativos”, tentando conter os gastos com benefícios ao invés de investir em seu “capital humano” para elevar o valor desse ativo para a companhia. O resultado disso é que o mesmo dinheiro gasto para manter as máquinas funcionando não é gasto para manter as pessoas em atividade. E os custos médicos e da perda de produtividade resultantes dessa miopia tem subido constantemente – acentuados pelo crescente comportamento pessoal não saudável de muitos profissionais.

(*) Ricardo De Marchi, médico e profissional de Saúde Corporativa da CPH Health.

 

Fonte: Saúde e produtividade