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Riscos e conflitos fazem bem à carreira

14 novembro 2012

por Lucas Toyama

 

 

As empresas precisam jogar para ganhar e não para não perder. É assim que George Kohlrieser, doutor em Psicologia Organizacional e professor de Liderança e Comportamento Organizacional do IMD (International Institute for Management Development), na Suíça, acredita que as empresas devem agir, criando uma cultura na qual os colaboradores se sintam estimulados a correr riscos, a buscar desafios e a querer mudanças constantes. Essa postura é importante também para que todos estejam preparados e consigam encarar o conflito, quando ele surgir.

 

 

E de conflitos ele entende. O psicólogo, considerado uma autoridade em resolução de conflitos, é negociador do FBI e já teve uma faca no pescoço quando se tornou refém em uma negociação policial. Para ele, conseguir lidar com conflitos é primordial, uma vez que eles têm a capacidade de mudar destinos. O elemento central nesta tarefa tão complexa quanto fundamental para lograr êxito no intrincado jogo organizacional são as lideranças.

 

Em entrevista exclusiva ao CanalRh, Kohlrieser explica por que os líderes assumem papel nevrálgico em situações de conflito e na construção de relações de confiança, discorre também sobre atributos de lideranças, enaltece a chegada de Dilma Rousseff ao topo, fala sobre o caráter paternalista de muitas companhias e as consequências disso. Confira.

 

 

 

CanalRh: As empresas têm sabido lidar com conflitos?

George Kohlrieser: As companhias, a exemplo do que acontece com as pessoas, tendem a evitar conflitos. Na verdade, é assim que o cérebro funciona. Ele trabalha para não conviver com perigos em potencial, como os conflitos. No entanto, líderes de alta performance ajudam seus subordinados a reconfigurar seus cérebros para que eles passem a entender os conflitos como um desafio necessário e uma oportunidade.

 

 

CanaRh: Existe uma forma particular para lidar com conflitos?

Kohlrieser: A melhor forma de lidar com eles é encarando-os de frente. Para isso, é preciso assumir que eles existem, o que exige maturidade. Os líderes devem, ao mesmo tempo, respeitar diferentes formas de pensar e se preocupar em resolver problemas, mais do que em manter as aparências. Esse é um dilema e um teste que um líder de alta performance deve resolver com sucesso.

 

 

CanalRh: Quais os principais equívocos cometidos pelas pessoas na resolução de um conflito?

Kohlrieser: O principal erro é quebrar a barreira do respeito em relação à pessoa com quem existe a indisposição. Mesmo arqui-inimigos, como Reagan e Gorbachev, são capazes de resolver divergências mantendo o respeito. Outro grande equívoco é fazer da pessoa com quem se tem o conflito o problema, ao invés de focar na questão em si. Por fim, é muito frequente os indivíduos exagerarem nas reações emocionais e, assim, acabarem com as possibilidades de diálogos francos e serenos – essenciais para a resolução de conflitos.

 

 

CanalRh: A postura informal do brasileiro, de alguma forma, ajuda na resolução de conflitos?

Kohlrieser: A informalidade nas relações é um bom elemento na construção da confiança e, portanto, ajuda na superação de diferenças. No fim das contas, conflitos acontecem entre pessoas. Assim, construir, manter ou quebrar barreiras são partes essenciais para lidar com eles. Os brasileiros geralmente são bons para construir relações e, por geralmente adotarem uma postura informal, permitem que a humanidade de cada um aflore.

 

 

CanalRh: O senhor acredita que, em uma situação de conflito, alguns líderes que se dizem democráticos deixam as máscaras cair e mostram sua autoridade?

Kohlrieser: Figuras autoritárias geralmente mostram uma tremenda falta de empatia e uma agressividade que se tornam preponderantes numa situação de conflito. E é bastante evidente que esse tipo de atitude destrói qualquer possibilidade de confiança entre um líder e sua equipe. Essa autoridade a que você se refere aparece em uma tentativa de controlar a situação ou o “opositor”, ou acontece como forma de proteção por parte de quem se sente ameaçado ou atacado.

 

 

CanalRh: O que o senhor quer dizer exatamente quando fala que as empresas devem jogar para ganhar, não para não perder?

Kohlrieser: Isso significa que líderes constroem companhias baseados em confiança e são uma base segura para seus funcionários e clientes. As empresas jogam para ganhar quando têm sucesso na criação de uma cultura na qual os colaboradores se sentem estimulados a correr riscos, a buscar desafios e a querer mudanças constantes. Isso é muito importante para os funcionários sentirem que podem arriscar sendo criativos e pró-ativos, ao invés de adotarem uma postura defensiva e cheia de receios. Jogar para ganhar é uma forma de pensar que se traduz em comportamentos.

 

 

CanalRh: Na prática, como essa relação de confiança pode ser atingida?

Kohlrieser: Com o líder desenvolvendo o talento das pessoas. Depois, adotando medidas que considere adequadas e colocando-as em prática até que se tornem um comportamento. Ser uma referência é um caminho recomendável. O ponto inicial é a liderança.

 

 

CanalRh: Então, afinal, quais os atributos de um bom líder?

Kohlrieser: Há oito pilares que sustentam um líder de alta performance. 1- Devem deixar de olhar apenas com seus próprio olhos. 2- Construir sólidas relações, inclusive com pessoas das quais não gosta. 3- Aprender a ser uma base de segurança e passar confiança às pessoas. 4- Comunicar-se efetivamente e utilizar sua linguagem para motivar e inspirar. 5- Saber lidar com conflitos. 6- Construir formas para encontrar objetivos comuns e buscar sempre o alinhamento entre as pessoas. 7- Ser um bom negociador, sabendo quando fazer concessões, como usar a lei da reciprocidade (o dar e receber). 8- Dispor de muita energia para montar e manter boas equipes.

 

 

CanalRh: Quais os principais erros cometidos pelos líderes?

Kohlrieser: Não criar relacionamentos sólidos, não desenvolver pessoas, não dar feedbacks constantes, não levar a emoção em consideração, não incentivar a equipe a correr riscos, não conseguir entender as motivações dos outros.

 

 

CanalRh: As lideranças devem estabelecer relações de confiança para conquistar melhores resultados?

Kohlrieser: Pesquisas mostram que o engajamento faz aumentar a produtividade e a qualidade do serviço porque ele está diretamente relacionado ao fato de o líder estar interessado em cada um de sua equipe. Assim, estabelecendo relacionamentos confiáveis, sendo referências e “cuidando” de suas equipes, os líderes podem “desafiá-las” a conquistarem mais do que elas mesmas haviam suposto. Isso quer dizer que você cuida das pessoas para desafiá-las a atingirem seus sonhos.

 

 

CanalRh: O senhor já mencionou que empresas latino-americanas são autoritárias e paternalistas. Por que acha isso?

Kohlrieser: Tende a ser uma tendência latina, na qual o pai personifica uma figura autocrática e autoritária. Ao transportar essa realidade para o mundo corporativo, o chefe, então, assume uma postura de autoritarismo, legitimando o “Apenas faça o que eu disser”. A contrapartida dessa situação é que os subordinados preferem que digam a ele o que deve fazer, numa transposição da relação entre pai e filho.

 

 

CanalRh: Isso é prejudicial para a resolução de um conflito, quando ele aparece, não?

Kohlrieser: Sem dúvida. Não há muito espaço para diálogo, delegações e comportamentos democráticos. Isso faz com que a equipe precise de muita coragem para se colocar diante do chefe.

 

 

CanalRh: É possível afirmar se homens ou mulheres tendem a ser líderes melhores?

Kohlrieser: Algumas pesquisas pendem para o lado segundo o qual as mulheres são, potencialmente, melhores líderes que homens porque o novo paradigma de liderança está alicerçado em como criar relacionamentos e ser colaborativo. As mulheres são um pouco mais habilidosas que os homens para isso. Mas isso não quer dizer que os homens não conseguem construir nem manter relacionamentos.

 

 

CanalRh: Que novo paradigma de liderança é esse?

Kohlrieser: Ele não se baseia mais em mandar, controlar e usar poder para dominar como costumava ser há 15, 20 anos. Aliás, saber construir e manter relacionamentos está mais ligado a um aprendizado, e não necessariamente ao gênero. Nos Estados Unidos, observamos muitas mulheres se tornando CEO’s de diversas organizações. Na América do Sul e na Europa esse avanço da mulher ainda é tímido.

 

 

CanalRh: Muito se fala da importância delas no mundo corporativo. A realidade, no entanto, é que elas ainda são minoria em posições de liderança. Não soa contraditório?

Kohlrieser: O Brasil passa por um momento histórico, já que pela primeira vez elegeu uma mulher como presidente. No começo deste ano, outra mulher foi escolhida para presidir a maior companhia brasileira, a Petrobras. Existe um mito de que todas as mulheres da América Latina são oprimidas e deixadas no segundo plano em culturas dominadas pelos homens. Todavia, os fatos mostram que a força feminina está aí, crescendo, mesmo que elas ainda sejam minorias em postos de destaque. É inegável que isso está mudando.

Fonte: Riscos e conflitos fazem bem à carreira