Planejamento de emergência e o comportamento humano
Data: 14/10/2011 / Fonte: Revista Emergência
Muitas vezes, projetos de sistemas de emergência e planos de abandono ou atendimento são elaborados levando em conta apenas aspectos técnicos, sem considerar características do comportamento humano. Por exemplo, por muitos anos, engenheiros trabalharam com a hipótese de que as pessoas abandonariam a edificação imediatamente quando um alarme de incêndio tocasse.
Desta forma, a velocidade com que os ocupantes fariam a evasão dependeria, principalmente, de suas habilidades físicas, a localização da saída mais próxima e o comportamento do fogo. Eventos como o ataque ao World Trade Center, em 2001, mostraram que este conceito era incompleto.
Embora os códigos de segurança atuais reflitam uma compreensão mais profunda do comportamento humano em emergências, ainda existem vários mitos sobre como iremos nos comportar quando ameaçados.
Lutar ou fugir
O uso do termo lutar ou fugir para descrever o comportamento animal em situações de ameaça foi cunhado pelo médico americano Walter Cannon em 1915. Atualmente, é bastante difundido o conceito de que os seres humanos, quando expostos a situações de medo ou estresse extremo, irão de modo imediato “lutar ou fugir”, isto é, irão enfrentar a situação diretamente ou tomar uma ação evasiva. Assim, conforme observa o psicólogo inglês John Leach, muitos sistemas para escape, evasão e resgate são projetados a partir da premissa de que as pessoas serão proativas em face do perigo.
Porém, estudos mais recentes propõem uma revisão do comportamento de lutar ou fugir, sugerindo uma sequência de comportamentos em mamíferos frente a uma ameaça caracterizados por paralisia, luta, fuga e espanto, em inglês fright. A paralisia, também chamada de hipervigilância, remete a presas que ficam paralisadas durante uma ameaça e que têm maior probabilidade de sobreviver porque o córtex visual e a retina dos mamíferos carnívoros evoluíram primariamente para detectar objetos em movimento e não cores.
Este comportamento se manifesta nos seres humanos em emergências, como por exemplo o naufrágio do MV Estonia no Mar Báltico, em setembro de 1994, quando testemunhas relataram que muitos passageiros foram vistos apenas aguardando sem se mover, enquanto outros pareciam paralisados e, aparentemente, incapazes de compreender o que estava acontecendo.
Pânico
Existe a ideia generalizada de que uma população sujeita a uma situação de emergência ou desastre irá, necessariamente, entrar em pânico, agindo de forma antissocial e egoísta. Apesar disto, diversos estudos têm demonstrado que o pânico em massa é uma ocorrência incomum diante de vários tipos de ameaças, desde ataques aéreos sobre populações civis até desastres naturais.
Embora raro, o pânico ainda pode existir em algumas situações. Enrico Quarantelli, pesquisador americano, concluiu que para a existência de pânico são necessárias três condições: as pessoas devem ter a sensação de que estão sendo aprisionadas, devem ter uma grande sensação de impotência e um profundo isolamento. A sensação ou ameaça de aprisionamento é mais relevante que a certeza ou crença de que não há saída, quando o pânico não costuma ocorrer.
Marcelo Tubis Ludovico
Engenheiro Químico, de Segurança do Trabalho e especialista em Gestão de Emergências e Desastres
Leia o artigo completo na edição de outubro da Revista Emergência.
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