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Pesquisadores abordam saúde dos bancários

23 setembro 2011

Data: 22/09/2011 / Fonte: Redação Revista Proteção

São Paulo/SP – O livro “Saúde dos bancários”, lançado em agosto durante um seminário internacional realizado pelo Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, traz artigos de pesquisadores brasileiros e internacionais sobre as condições de trabalho e o adoecimento da categoria. Desgaste mental, assédio moral, ergonomia, organização do trabalho e LER/DORT estão entre os temas abordados.      

“A ideia foi produzir um material mais contundente, que reunisse pesquisadores, e fazer um seminário internacional com a vinda de Christophe Dejours e a equipe dele. É uma produção com bases científicas, que dá respaldo a nossa luta”, afirma Walcir Previtale Bruno, secretário de saúde e condições de trabalho do sindicato.  

Para organizar a obra, foi convidado o professor da Escola Politécnica da USP, Laerte Sznelwar. No seminário, o pesquisador destacou a gravidade da disjunção entre saúde e processos de trabalho, pois não é possível olhar as consequências sem observar a origem. “Se continuarmos a separar a saúde do que é trabalhar não vamos avançar. Quando a doença do trabalho é notificada já é tarde. Temos que compreender o trabalho, o trabalhar e como transformá-lo”, explica.    

Prazer e adoecimento
O pesquisador da USP falou sobre os limites entre o prazer e o adoecimento no trabalho. O trabalho exige a mobilização de todos os recursos: corpo, ético, moral, desejos. Quando ocorre uma limitação em relação ao fazer, a pessoa passa a lutar contra si mesma. “Se eu vivo essa contradição o tempo todo, chego a um impasse. Tudo que eu faço e se exige de mim me faz sofrer, mas quando consigo me colocar e chegar a um resultado, há o prazer. O problema ocorre quando o que eu faço não é reconhecido, nunca é suficiente”, diz Sznelwar.

O professor francês Christophe Dejours, do Conservatoire National des Arts et Métiers, também abordou a relação entre o trabalho e o sofrimento mental, na qual as pessoas desenvolvem estratégias para se defender. Um dos problemas presentes em bancos colocados pelo pesquisador é o assédio moral. Não se trata de uma questão nova, no entanto, a forma como o trabalho se organiza hoje é diferente.

“Precisamos retomar iniciativas que mudem a organização de dentro para fora. Nos bancos, a avaliação individual de desempenho coloca em competição setores, empresas e até duas pessoas. Há ameaças de desemprego, que geram o medo e atitudes não leais. O respeito mútuo é contido e há ausência de solidariedade, que leva à rivalidade e à solidão. Não se tem o apoio dos colegas, e as pessoas estão sozinhas. O problema que quero levantar é: as novas formas de organização tendem a destruir a solidariedade”, afirma Dejours.

Para ele, sem a rede de apoio dos colegas, há o cenário propício para o adoecimento. É necessário discutir as formas de trabalhar, recuperar o trabalho vivo e transformá-lo a partir da realidade e do restabelecimento da confiança de baixo para cima. Os gestores precisam entender as dificuldades reais do trabalho para assim negociar melhores condições.

Internacional
A presença dos autores durante o lançamento ainda possibilitou a criação de um panorama internacional sobre a saúde dos trabalhadores. François Hubault, ergonomista e professor da Université Paris 1 Atemis, ressaltou que na França os riscos psicossociais são levados a sério pelos pesquisadores. Dejours relembrou casos em que acontece o pior: o suicídio relacionado ao trabalho. Fatos ocorridos na França e em outros países europeus, na China e no Japão. Já o psicólogo Patrício Nusshold, da Universidade de Buenos Aires, afirmou que muitos dos problemas vivenciados pelos bancários no Brasil também ocorrem na Argentina, como casos de sofrimento psíquico.

“A saúde é uma das condições para a eficácia do trabalho. Quando a pessoa não pode colocar suas habilidades em prática pode adoecer. Com a tendência de se industrializar os serviços, por meio da rotinização e informatização das atividades, a pessoa se torna modelo de imitação, um script passa a ser recitado e os atos são padronizados. Há ainda um acúmulo de atividade e o assédio. Precisamos repensar essas questões e levar essa discussão adiante”, avalia Hubault.

Fonte: Pesquisadores abordam saúde dos bancários