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No Estadão.com.br: “O desafio é a competitividade”

14 fevereiro 2012

Publicada em 13 de Fevereiro de 2012 pelo Estadão.com.br. Por Raul Velloso.

 

Passado o carnaval, caberá repassar os grandes desafios econômicos à frente do País, começando pelo processo de desindustrialização em curso e pela suposta sobrevalorização da taxa de câmbio. A queda de metade do peso da indústria de transformação no Produto Interno Bruto (PIB) vem, na verdade, desde o final dos anos 80. Na raiz estão a baixa qualidade da educação; a rigidez da legislação trabalhista; a altíssima carga tributária – que esconde gastos públicos correntes muito elevados -; as elevadas taxas de juros; a cara e insuficiente infraestrutura; e o baixo desenvolvimento tecnológico. Todos sabem disso, mas pouco se fez. Houve até abertura comercial, só que sem ajuste compensatório nesses fatores.

 

 

A emergência da China como potência industrial de grande peso no mundo e a consolidação da posição do Brasil como seu maior supridor de produtos agrícolas e minerais deram novo ímpeto ao mesmo processo. Diante do objetivo chinês de se tornar o maior exportador mundial de produtos industrializados, a indústria brasileira – e, de resto, a do mundo inteiro – passou a sofrer a dura concorrência de produtos de qualidade crescente e preços progressivamente mais baixos. O Brasil só não ficou pior por ter se firmado como um dos maiores exportadores mundiais de commodities agrícolas e minerais, especialmente para a própria China, mercê, ainda, de ganhos de produtividade e expansão das áreas respectivas. E se beneficiou, assim, do forte aumento nos preços internacionais de commodities desde 2002.

 

 

Dados o crescimento da demanda agregada via consumo e a insuficiência de investimentos em serviços de infraestrutura e outros itens não comercializáveis com o exterior, sobem os preços relativos destes em relação aos demais, especialmente da indústria. Ocorre, assim, uma pressão pró-apreciação real da taxa de câmbio, que vem se acentuando, diante da receita adicional de divisas derivada da subida dos preços de exportação de commodities e também do forte ingresso de capitais, seja pelos juros altos, seja pelas reformas macroeconômicas de curto prazo.

 

 

Sem medidas compensatórias, não haveria como evitar a tendência à migração de parcela dos recursos investidos nos setores perdedores (indústria) para os ganhadores (serviços e commodities). O encolhimento da indústria resulta, portanto, da combinação dos fatores que elevam o custo de operar no País – incluindo os gargalos nos serviços de infraestrutura – com os resultados da implementação do modelo chinês de dominação industrial, sem falar na abundância mundial de divisas.

 

Leia a íntegra no Estadão.com.br.

Fonte: No Estadão.com.br: “O desafio é a competitividade”