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No Brasil Econômico: “Manter competitividade é o desafio do Brasil”

4 outubro 2011

Publicada em 27 de setembro de 2011 pelo Brasil Econômico. Por Carolina Alves

A redução do nível de atividade de setores como a indústria é o principal desafio do país para enfrentar o contágio da crise internacional e manter o ritmo de crescimentoem4%

O Brasil vai muito bem e não deve sofrer grandes impactos com a crise internacional. A análise, no entanto, não veio de dentro do governo, mas sim dos economistas e ex-ministros Delfim Neto e Luis Carlos Bresser-Pereira que, apesar do otimismo, estão preocupados com a sustentabilidade do crescimento econômico brasileiro diante de um cenário de redução do nível de atividade, agravado pela desvalorização cambial e a forte concorrência com os importados. No âmbito da indústria, a competitividade dos produtos nacionais é uma forte ameaça ao ciclo virtuoso no qual o país se encontra hoje.

“Há um desconhecimento grande em torno da crise, mas sabemos que ela vai se deteriorar muito, o que traz um desafio para o Brasil. O país precisa saber tirar melhor proveito de seu atual papel de liderança e não cometer erros que rompam com o ciclo de crescimento.

Não podemos ceder às especulações do mercado”, afirma Benjamin Steinbruch, presidente da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e vice-presidente da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp). Em evento da Fundação Getúlio Vargas (FGV), realizado ontem na capital paulista, ele criticou a falta de ação do governo frente às fortes oscilações do dólar dos últimos dias, um item que tem prejudicado a competitividade da indústria nacional. “Estamos num grande risco de desindustrialização por conta das distorções que existem dentro do país. Não existe a menor possibilidade de o Brasil competir com a Ásia”, diz Steinbruch. “Temos de fazer as reformas necessárias para que a indústria retome o fôlego e volte a empregar mais”, justifica.

Para ele, o Banco Central demorou para intervir no mercado, seja por meio de ações de compra e venda de dólar, seja pela redução da taxa de juros.

“O BC fez o que deveria ser feito, mas com muito atraso. Será muito ruim se ele não mantiver a queda da taxa nas próximas reuniões”, defende.

Para o economista Delfim Neto, contudo, o Brasil está protegido de uma crise cambial, o que reduz as chances de uma eventual deterioração da atividade econômica. “Crise cambial no Brasil é algo pouco provável.

Mas o problema não está resolvido.

Enquanto a taxa de juros real interna não for igual à externa nossos problemas vão persistir”.

Ele destaca que o presidente do BC, Alexandre Tombini não tomou atitudes tardiamente, apenas esperou o “sinal amarelo” para agir. “Ele está mais afinado com a realidade do mundo do que todos os analistas financeiros”, diz. Delfim acredita que a posição da presidente Dilma Rousseff também é assertiva.

“Ela faz bem quando dá mais atenção para o crescimento que para a inflação. Estamos num momento externo muito complicado e os Estados Unidos não vão colocar ordem na casa antes das eleições de 2012.O fortalecimento do mercado interno brasileiro, portanto, é muito mais importante”, completa.

O ex-ministro Bresser Pereira concorda. Para ele, o fato de o Brasil ter pela primeira vez uma economista na presidência é uma vantagem. “O mais importante é que o BC e o Ministério da Fazenda estão trabalhando juntos dessa vez. A inflação deve ficar dentro da meta este ano, embora o governo não esteja colocando todas as suas fichas no controle de preços. Ele está, corretamente, atuando para atingir um equilíbrio entre a inflação, o emprego elevado e o câmbio. Não é fácil”, diz.

Ele reforça que, para cada 10% de valorização do real, há 1%a mais de inflação.O governo está correto em apostar na desvalorização do real. Se fizer com cuidado, vai dar certo sem trazer inflação”, complementa.

Estamos num grande risco de desindustrialização por conta das distorções que existem dentro do país. Não existe a menor possibilidade de o Brasil competir com a Ásia Benjamin Steinbruch Presidente da CSN

Fonte: No Brasil Econômico: “Manter competitividade é o desafio do Brasil”