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Mudança de paradigmas na abordagem da saúde do trabalhador

8 maio 2013

Data: 06/05/2013 / Fonte: Priscilla Nery Rocha – Revista Proteção

Desde os anos 1980, o médico sanitarista e epidemiologista Heleno Corrêa Filho viu-se envolvido com a saúde do trabalhador. Sempre apostou na ideia de uma área específica de cuidado com os trabalhadores dentro do sistema público. Com a constituição do SUS (Sistema Único de Saúde), e um capítulo da Constituição de 1988 dedicado a esta rede, e a posterior criação dos Cerests (Centros de Referência em Saúde do Trabalhador), seu desejo tornou-se realidade.

Proteção – Há um passivo ambiental, mas também ocupacional no país. Temos muitos casos de contaminações, de trabalhadores adoecidos pelo trabalho e nem sempre isto fica claro para a sociedade e inclusive para o próprio trabalhador. Como o senhor avalia esta realidade?

Heleno Corrêa Filho – Nos últimos anos, o trabalho e a produção foram intensificados, porque o país saiu do modelo primário e agrícola exportador ou extrativista puro para um modelo misto industrial-agroindustrial e de serviços. A produção aumentou muito. Em 50 anos houve um crescimento de produtividade, de quantidade de mão de obra em todos os setores.

Atualmente, a chance de um cidadão brasileiro sofrer de um problema de saúde causado pela exposição no trabalho aumentou em relação ao que era em 1950, ao que era em 2000. Entre 2003 e 2013, o mercado recebeu mais de 15 milhões de novos trabalhadores e isso aumenta a exposição aos processos de trabalho. Consequentemente, ampliou o número de ocorrências geradas por atividades realizadas em condições inadequadas.

Assim, aumenta a visibilidade social, cresce a capacidade de diagnóstico. A mobilização dos trabalhadores e a percepção da população, do Governo e das empresas também se expandiram. Todos estão mais alertas, porque há um número de acidentes e doenças ocupacionais muito maior, decorrente também do aumento da exposição. Nos últimos 20 anos, na chamada reestruturação produtiva, houve esse crescimento e a aceleração dos efeitos da exposição a diversos riscos.

A epidemiologia existe para calcular isso, descrever como esse processo está ocorrendo e tentar oferecer alternativas para controlá-lo. Nossa meta não é frear a produção, não é desacelerar a economia, e sim tornar essa intensificação do trabalho compatível com a vida humana. Não tenho dúvidas de que a intensificação do trabalho também intensificou o adoecimento, a morte e a poluição ambiental, a ponto de tornar inabitáveis vários lugares. Alguns nem podem ser recuperados, porque determinados tipos de exposição industrial e ambiental são irreversíveis.

Foto: Arquivo do autor

Confira a entrevista completa na edição de maio da Revista Proteção

Fonte: Mudança de paradigmas na abordagem da saúde do trabalhador