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Missão dada é missão cumprida

13 outubro 2011

por Lucas Toyama

 

No primeiro semestre, durante um processo de transformação absoluta de cultura, processos e procedimentos, a Telemart, empresa de soluções tecnológicas de comunicação integrada, precisava transmitir os novos conceitos para seus líderes. A ideia era deixar claro que os tempos eram outros e que as dificuldades crescentes em um mercado extremamente competitivo exigiriam muito mais que empenho dos funcionários: o sentimento de equipe e a integração entre unidades e áreas deveriam ser fundamentais para a companhia. Diante do desafio, o departamento de Recursos Humanos da empresa optou por deixar de lado apresentações formais e encontrou uma solução um tanto peculiar para cumprir essa tarefa: chamou o BOPE (Batalhão de Operações Policiais Especiais).

 

Na realidade, a instituição em si não ministra palestras, mas um de seus ex-membros, sim. Trata-se do ex-capitão Paulo Storani que, em 1999, após 17 anos de atuação, deixou a corporação e passou a estudar formas de relacionar as características do BOPE àquelas encontradas no universo organizacional. Mestre em antropologia, pós- graduado em gestão de RH e em administração pública, Storani é professor de Ciências Policiais na Universidade Cândido Mendes, no Rio de Janeiro e, há quatro anos, viaja pelo Brasil dando palestras. Ano passado, fez, em média, 27 apresentações por mês.

 

No trabalho realizado para a Telemart, o ex-capitão abordou a necessidade de se trabalhar como um grupo coeso para superar todo e qualquer desafio – uma realidade bastante familiar para ele. “Com esse treinamento, identificamos nossas dificuldades, conhecemos os obstáculos e como vencê-los como grupo”, afirma Sayonara Saio, gerente de RH da empresa. “Por meio da palestra, abordamos assuntos centrais para a companhia como a integração entre pessoas e unidades, a relevância da comunicação interna, como ter melhor relacionamento com o cliente”, completa, ressaltando o sucesso da empreitada junto aos 24 participantes do evento.

 

Manoel Luiz Triani, gerente financeiro, era um deles. Ele assume o estranhamento que teve ao saber que o treinamento seria com um ex-integrante do BOPE, mas reconhece as lições aprendidas no encontro. “No começo fiquei um tanto receoso, mas os paralelos entre o BOPE e o mundo corporativo são reais e pude obter informações relevantes sobre dedicação, disciplina, compromisso e cumprimento de metas”, afirma.

 

Mobilização de mentes e corações 

 

O receio de Triani é bastante comum, segundo Storani. “As pessoas, no primeiro momento, relacionam o BOPE à truculência e isso pode afugentá-las”, diz. No entanto, continua, eu não abordo esse aspecto, mas as necessidades de cada mercado para conseguir atingir seus objetivos. “A corporação precisava usar a truculência para obter êxito. Cabe a cada companhia entender o ambiente onde está inserido e, a partir daí, traçar sua estratégia para crescer”, comenta.

 

Em suas apresentações, todavia, alguns temas são recorrentes. Performance é um deles. “Sempre ressalto que o tripé ‘conduta, qualidade e resultado’ é vital para todo profissional que quer prosperar”, explica. Esse trio, contudo, só acontece efetivamente se houver mobilização, um assunto que Storani conhece como poucos. “Para trabalhar no BOPE é preciso acreditar nas pessoas, nas funções, no que deve ser feito e por quê”, diz. “Antes na corporação e agora nas empresas eu faço um trabalho de mobilização de mentes e de corações. Afinal, somente quando as pessoas acreditam sinceramente no que fazem elas produzem bem”, completa.

 

A questão da mobilização torna-se ainda mais importante quando os profissionais se deparam com agruras do dia a dia, com as pressões e com as dificuldades de mercados cada vez mais exigentes. Nesse sentido, o paralelo com o BOPE torna-se inevitável. “Ninguém é convidado a trabalhar no BOPE. Lá, só há voluntários. Os candidatos passam por um processo seletivo que é feito para ninguém passar. Depois, é definido um programa de treinamento no qual a pessoa se responsabiliza pelos riscos a que está se submetendo. Lá, o princípio que rege tudo é o do desconforto”, diz. “Obviamente, os processos nas empresas são completamente diferentes, mas a ideia de que é preciso sair da zona de conforto, assumir os riscos para poder crescer são as mesmas”, completa.

 

O ex-capitão ressalta, no entanto, que as adversidades pelas quais os membros do BOPE passarão são sabidas por todos, em uma relação transparente vital para a corporação. “Esse é um ponto que, às vezes, o BOPE e o mundo corporativo divergem, já que muitos profissionais ainda têm uma visão míope de suas atribuições porque as empresas nas quais trabalham simplesmente não transmitem essas informações com clareza nem com transparência — algo que compromete e muito a relação, a produção e, claro, os resultados”, finaliza.

Fonte: Missão dada é missão cumprida