Um comunicador wireless (sem-fio) acoplado ao capacete de eletricistas pode facilitar o trabalho em redes de alta tensão. O equipamento, desenvolvido pela Escola Politécnica (Poli) da USP e a Companhia de Transmissão de Energia Elétrica Paulista (CTEEP), serve para auxiliar a comunicação entre eletricistas por meio de três recursos: áudio, imagem e vídeo.

“Quem trabalha em linha de transmissão de alta tensão fica exposto a grandes riscos, pois atua junto ao potencial da linha (cabo que está conduzindo a energia) e numa altura elevada. Nessas condições, os eletricistas têm pouco contato entre si para auxiliá-los em seu trabalho. O comunicador, portanto, visa a facilitar esse contato”, explica André Hirakawa, professor da Poli e coordenador por parte da Escola no projeto que criou o equipamento.

O comunicador consiste numa câmera capaz de fotografar e filmar, acompanhada de um microfone com escuta. Este último recurso é o mais importante, pois permite que o eletricista converse diretamente com o “auxiliar”, que é quem fica no solo auxiliando o trabalho do eletricista. Já a câmera permite que o auxiliar acompanhe por vídeo as atividades do eletricista, além de tirar foto em alta qualidade de algum detalhe da rede, que depois poderá ser analisada com cuidado pelo próprio auxiliar ou por outros técnicos.

Toda a operação é transmitida por sinal wireless entre o comunicador e um computador do auxiliar, que recebe as informações do eletricista. Thomas Vilhena, aluno da Poli e um dos autores que participaram do projeto, comenta que a base da transmissão dos dados se dá pelo software do computador: “O auxiliar habilita a transmissão pressionando um botão no software do seu computador, que aciona o recurso de áudio antes de o eletricista subir na torre. Desta forma, quando este sobe, o áudio já estará funcionando”. Vilhena detalha que o comando das imagens e de vídeo se dá pelo computador do auxiliar.

Vantagens e desvantagens – O estudante da Poli aponta alguns benefícios trazidos pela tecnologia. Ele destaca sua versatilidade, pois o comunicador integra três tipos de recursos. O fato de o equipamento ser sem fio elimina o uso de cabos. Além disso, a sua bateria dura bastante, por volta de 12 horas.

Porém, Vilhena levanta também alguns pontos negativos. Ele ressalva que apesar de o sinal do comunicador chegar até altas torres de energia, o alcance é limitado, chegando numa distância de no máximo 100 metros sem obstáculo. Outra limitação se refere a uma baixa transmissão de dados pela escolha do modo de transmissão sem-fio.

“Considerando a capacidade reduzida de taxa transmissão de dados do comunicador sem-fio utilizado, a implementação do recurso de vídeo só foi possível com a redução da resolução dos quadros. Mesmo assim, só foi possível atingir uma taxa de amostragem de cerca de três quadros por segundo, semelhante a uma câmera de vigilância de baixa qualidade”, esclarece sobre um dos efeitos da transmissão.

Por outro lado, essa escolha permitiu que se consumisse menos da bateria. O professor Hirakawa argumenta que essa escolha se deve também ao local de uso do comunicador. “Como o equipamento é utilizado em redes de alta tensão, precisavamos que ele operasse em uma frequência que não interferisse na rede, diminuido os riscos para o eletricista.”

Vilhena diz que o comunicador vem com uma caixa metálica que atua como blindagem. Essa proteção serve para impedir que a descarga elétrica emitida pela torre de energia não atinja a parte mais sensível do equipamento.

O equipamento ainda não tem custo estimado, pois só foi feito um protótipo e seu uso continua sob estudo da CTEEP. O projeto “Desenvolvimento de Sistema de Transmissão de Voz e Dados Aplicados para Eletricistas de Linha de Transmissão” foi financiado pela companhia, com participação no desenvolvimento de Vilhena e de Silvio Amancio, ex-aluno de graduação de Engenharia da Computação da Poli.