Carga de trabalho impacta saúde dos colaboradores

por Thalita Battistin

O brasileiro está adoecendo mais por causa do trabalho. É o que aponta pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que ouviu 3.709 pessoas em todo o Brasil e constatou que pelo menos um em cada cinco profissionais já sofreu algum tipo de doença ou acidente em consequência da sobrecarga de trabalho. A pesquisa intitulada ‘A percepção dos trabalhadores sobre intensidade e exigências no ambiente de trabalho’ traz novas informações sobre a relação do volume de tarefas e exigências no espaço corporativo. Grande parte dos entrevistados – 41,6% – afirma que há uma cobrança muito grande quanto à realização de atividades que antes eram exercidas por mais de uma pessoa.

“Esse processo de intensificação do trabalho é difícil de ser observado diretamente, já que não implica aumento de horas trabalhadas, mas maior desgaste dos trabalhadores. É uma forma de as empresas reduzirem os custos totais em uma circunstância em que outros mecanismos, como extensão da jornada e diminuição de salários, não são factíveis ou até ineficientes”, explica o técnico de Planejamento e Pesquisa do Ipea, Roberto Henrique Gonzalez.

A solução para mudar este quadro está nas mãos de empresas e colaboradores, mas é complexa e desafiadora, conforme aponta Ana Maria Rossi, presidente da International Stress Management Association (ISMA-BR), associação com caráter internacional voltada à pesquisa e ao desenvolvimento da prevenção e do tratamento de estresse no mundo. “As empresas estão cada vez mais enxugando o quadro de colaboradores, mas mantendo a mesma quantidade de trabalho”, ressalta, acrescentando que isso resulta em estresse e em uma série de problemas de saúde física. “Além de a companhia frear a pressão por resultados, é importante o colaborador respeitar os seus limites”, avalia.

O empregado que está em processo de adoecimento costuma transparecer alguns sinais que permitem à empresa intervir e ajudar na sua reestabilização. “O colaborador doente sofre mudança emocional, fica agressivo ou passivo diante de situações corriqueiras que em seu estado normal o deixariam feliz ou nervoso. Além disso, há pessoas que ficam sonolentas, engordam ou emagrecem rapidamente ou descontroladamente”, explica Ana Maria.

Os danos não ficam restritos apenas à saúde do colaborador. Os prejuízos para a empresa são extremamente altos. “Isso porque há gastos com as demissões, licenças de saúde, faltas para ir ao médico, entre outros pontos.”

Uma forma de lidar com esta sobrecarga do dia a dia é manter uma vida saudável, alimentando-se e dormindo bem. Porém, caso já esteja doente, o trabalhador “deve procurar os médicos dentro da empresa e dizer o que está acontecendo, que está se sentindo mal por causa do acúmulo de tarefas; já a empresa precisa querer ajudar este funcionário, sendo que o ideal é ela contratar profissionais especializados na área da saúde”, indica Leda Leal Ferreira, diretora do serviço de ergonomia da Fundacentro, única entidade governamental do Brasil que atua em pesquisa científica e tecnológica relacionada à segurança e saúde do trabalhador.

Processos trabalhistas

O aumento de trabalhadores doentes por excesso de trabalho apontado pelo Ipea pode ser observado também na Justiça. Há uma crescente demanda de processos trabalhistas em função dessa sobrecarga. Segundo dados do Conselho Nacional de Justiça, só em 2009, ingressaram quase 4 milhões de ações na Justiça Trabalhista. “O número só tende a crescer, porque o brasileiro percebeu que pode lutar pelos seus direitos”, afirma a advogada trabalhista e conselheira da Associação dos Advogados Trabalhistas de São Paulo (AATSP) Cida Prado.

Para a advogada, executar muitas tarefas isoladas em um dia ou outro não é o problema, o que prejudica a saúde é quando esses excessos viram rotina. “Quando a situação chega ao limite, os trabalhadores procuram pelos seus direitos na Justiça, processando seus empregadores, principalmente por dano moral – ofensa à personalidade e integridade do trabalhador”. Para a advogada, processar por ato lesivo deveria servir de lição para as empresas repensarem como tratar os seus colaboradores.