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Câncer relacionado ao trabalho é debatido no Senado Federal

10 outubro 2009

Tema é apresentado durante a realização do V Seminário Nacional de SST e Meio Ambiente no Brasil

O tema câncer relacionado ao trabalho, debatido no Senado Federal (30/9), auditório Antonio Carlos Magalhães, faz parte de uma das pautas prioritárias do governo federal, com apoio do PNUD, Íntegra Brasil, Interlegis, INCA e com a participação da Fundacentro.

Diante da relevância do tema, foram convidados para promover o debate, gestores públicos e especialistas de instituições da Saúde, Trabalho e do Poder Legislativo, para juntos contribuírem na contextualização do tema, fornecimento de dados, retrospectivas e perspectivas na área da prevenção da saúde ocupacional e pública, bem como ajudar na identificação de soluções para a redução dos riscos.

Pesquisa da Organização Mundial da Saúde mostra que países em desenvolvimento representam 40% como uma das principais causas de morte, o câncer. Seguido dessa estimativa, quase 2 bilhões de reais são gastos em casos de câncer, segundo dados de 2006 do DATASUS.

Convidado como palestrante, o médico do trabalho e Deputado Federal pelo PT/PR, Doutor Rosinha, apoiou a iniciativa de levar o tema para dentro de uma casa parlamentar, mas ressaltou que infelizmente falta visibilidade no Poder Legislativo de compreender a importância de debates que tratem e promovam assuntos voltados para as doenças do trabalho. “É uma pauta que não tem repercussão no Congresso Nacional”, colocou Rosinha e complementou defendendo as leis de iniciativa popular, onde a sociedade e os trabalhadores devem se mobilizar.

Segundo dados apresentados por Zuher Handar, representante da Organização Internacional do Trabalho e palestrante, o panorama mundial dos acidentes de trabalho é de que 32 % das mortes estão associadas ao câncer, diante de 160 milhões de novos casos diagnosticados. A Convenção 139, ratificada pelo Brasil, em 7 de maio de 1990, coloca que onde haja a presença de agentes cancerígenos e que exponham os trabalhadores, deverão ser substituídas por substâncias ou agentes menos nocivos.

Nessa mesma linha de agentes nocivos, encontram-se os agrotóxicos no Brasil, 1º consumidor do produto no mundo.

A pesquisa da professora e doutora adjunta da Universidade Federal de Minas Gerais, Jandira Maciel, intitulada: “Agrotóxicos no Brasil”, estabelece a relação entre cânceres e agrotóxicos e mostra que há um duplo perfil epidemiológico associado às classes sociais -, quanto maior o poder aquisitivo, menor a taxa de incidência, e quanto menor o poder aquisitivo, maior a taxa de incidência. “Precisamos pensar na ocupação das diferentes classes sociais, comparar o estilo de vida dessas pessoas, para então, estabelecermos critérios e compreendermos melhor a exposição às substâncias carcinogênicas”, observa Maciel.

Para ela, a grande preocupação é que quando se trata de câncer relacionado ao trabalho, há uma notificação compulsória, diferente do câncer, onde não há a presença de notificação.

O diretor técnico da Fundacentro, Jófilo Moreira Lima, coordenador da mesa, fez uma exposição sobre os principais cancerígenos ocupacionais e apresentou o trabalho que a instituição vem realizando, especialmente no combate ao câncer ocupacional, como é o caso do Programa Nacional de Eliminação da Silicose, coordenado pela entidade.

Silvana Rubano do Instituto Nacional do Câncer, observa alguns desafios que se impõem para o combate ao câncer. Uma delas, apontada pela pesquisadora, pode ser o controle da exposição ocupacional e a proibição quanto ao  número de substâncias químicas proibidas, sendo que atualmente, somente 4 delas são vetadas pelo Ministério do Trabalho e Emprego.

Além disso, as neoplasias ocuparam a 2ª. causa de morte, representando 16.7% em 2007, ocupando o primeiro lugar, o câncer de pele; em segundo, próstata, em terceiro, mama; em quarto lugar, câncer de pulmão, em quinto, cólon e reto; em sexto, estômago e em sétimo lugar, o câncer de colo do útero.

Ainda segundo dados abordados na pesquisa da especialista em saúde coletiva, o câncer relacionado ao trabalho registrou 18 mil novos casos no Brasil nos anos de 2008 e 2009 (incluindo o ano de 2009).

As informações sobre câncer ocupacional podem ser lidas:

-Apresentação da Fundacentro sobre cancerígenos ocupacionais, em V Seminário Nacional de Segurança, Saúde e Meio Ambiente no Brasil: Câncer Relacionado ao Trabalho

-Convenção OIT /139 – clique aqui 

-Portaria Ministério da Saúde 1339/1999: clique aqui

-Site do INCA em “Neoplasias relacionadas ao trabalho”: clique aqui

Periódico Britânico em oncologia faz revisão de carcinógenos humanos, estabelecidos pela IARC

O periódico britânico em oncologia, The Lancet, publicou, em maio de 2009, relatório intitulado “Uma revisão sobre as principais substâncias químicas cancerígenas aos seres humanos”.

O relatório, realizado por 27 cientistas de 8 países, foi apresentado durante a realização do encontro promovido pela IARC (Agência Internacional de Pesquisa sobre Câncer), com a finalidade de avaliar a carcigenocidade de metais, arsênico, poeiras e fibras, previamente classificadas como “carcinógenos humanos” (grupo 1).

A inalação foi considerada a primeira causa de exposição ao arsênico no ambiente de trabalho, e ocorre em indústrias de fundição não-ferrosa, produção de arsênico, conservação da madeira, fábrica de vidros, produção e aplicação de pesticidas que utilizam arsênico e na fabricação de eletrônicos.

A pesquisa coloca ainda que a exposição não ocupacional ao arsênico se dá por meio da ingestão de alimentos, exceto em áreas com altos níveis de arsênico na água potável, como as existentes na Tailândia, Bangladesh, Índia, norte do Chile e na Argentina.

Estudos epidemiológicos mostraram que a exposição ao arsênico por meio de inalação ou consumo de água, causam câncer de pulmão, de pele e incontinência urinária. Evidências sugerem uma associação entre a exposição ao arsênico e o consumo de água, bem como o surgimento de tumores em outros locais.

Acima de tudo, o grupo de trabalho classificou os arsênicos e os compostos inorgânicos de arsênico como carcinógenos para os seres humanos (grupo 1).

O grupo de trabalho reafirmou a classificação de berillium e seus compostos, cádmio e compostos, compostos de cromo (VI) e composto de níquel como “cancerígenos aos seres humanos” (grupo 1).

No mundo, estima-se que 125 milhões de pessoas continuam expostas ao asbesto no ambiente de trabalho. Apesar de o asbesto ter sido banido ou restrito em quase todos os países industrializados, seu uso continua aumentando em alguns locais da Ásia, América do Sul e a antiga União Soviética. A exposição ao asbesto pode ocorrer em fábricas de freio, de materiais com  fibrocimento, como por exemplo na produção de caixas d´água e telhas de amianto.

A deteriorização dos produtos contendo asbesto contribuem para a exposição ambiental em todo o mundo. A exposição também pode ocorrer devido as fibras em uniformes utilizados pelos trabalhadores, que se levados para o lar, podem contaminar os familiares.

O artigo em inglês poderá ser acessado em: www.thelancet.com/oncology (volume 10, maio/2009).

Fonte: Câncer relacionado ao trabalho é debatido no Senado Federal